terça-feira, 28 de novembro de 2017
Fusca azul de Kenard
Kenard Kruel Fagundes 14 min · O meu fusca azul, conversível, cheio de poemas que, na verdade, era da minha mulher Maria Rita Cavalcanti, já não precisava mais de chave para dar a partida. Abastava apertar o dedo na ignição que ele saia em disparada. Uma madrugada, no inesquecível Nós e Elis, Zona Leste de Teresina, o cartunista Paulo Moura, já querendo deitar-se com Morfeu, pediu para eu levá-lo em casa. O Albert Piauhy não deixou, E quem mandava em mim era o Albert Piauhy. Paulo Moura foi lá no fusca azul, meteu o dedo na ignição e saiu em disparada. Nunca tinha dirigido um carro, nem de mão. O freio de mão ele não desligou. Passou pela Avenida Frei Serafim passando por cima de todos os canteiros das árvores. Deu uma volta pela frente do Theatro 4 de Setembro. Chegou ao Rio Parnaíba, consegui dobrar à direita para pegar a Avenida Miguel Rosa e, depois de muito pneu fedendo, galhos de árvores na cabeça, ele, finalmente, estacionou o fusca azul em frente da casa dele. Quando o Albert Piauhy se decidiu ir embora, cadê o fusca azul? O garçom fez uma delação premiada (dei uma gorjeta de 100 reais para ele, por isto todos me adoravam no Nós e Elis), dedurando que o Paulo Moura havia saído no fusca azul. Perguntei: como assim, José Marques Zemarx? O Paulo Moura nunca dirigiu na vida. Pegamos um Uber e fomos à residência oficial do Paulo Moura. Tive que mandar trocar os quatro pneus, estavam me petição de miséria. Fui deixar o Albert Piauy na Piçarra, onde ele morava e fui para casa, craniando quem foi o espírito bom que levou o Paulo Moura até à residência oficial dele. Só sei que ele chegou bem, com fé, esperança e amor. (Arte do genial Pernambucano, de Recife, Carlos Araújo).
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