quarta-feira, 6 de dezembro de 2017
Jornal do Boteco Kenardiano
Kenard Kruel Fagundes 3 de dezembro às 13:22 · Victor Gonçalves Neto, jornalista e poeta, tinha residência em Caxias (MA), onde mantinha um jornal, para denunciar os podres dos podres poderes, e preocupar a família, pois amava viajar pelo mundo, como ele dizia: Europa, Brasil, Bahia, Caxias, principalmente se fosse no meu fusca azul, conversível, ferrolho de portão. Por uns tempos, deu de morar com uns índios no Xingu. Voltou falando latim e várias línguas e dialetos indígenas. Quando vinha a Teresina, hospedava-se na casa de dona Arminda Ramos, viúva do grande amigo dele Dr. Raimundo Ramos, dono da Gráfica Ramos, do Jornal de Teresina e de uma ironia sem igual. O Dr. Raimundo Ramos era quem fornecia, muitas vezes sem pagamento, o papel para o jornal O Pioneiro, de Victor Gonçalves Neto, que era muito paparicado pelos filhos do casal - Dr. Raimundo e Arminda Ramos - músicos Garibaldi Ramos, Ramsés (de saudosa memória), Carla Ramos e Renzo Ramos. Não sei o que ele tinha com o senhor João Claudino, dono do Armazém Paraíba. Todas às vezes ele passava lá, sem ser anunciado, nem nada, entrava sala adentro e saia com um pacote de dinheiro, que ele nem tinha trabalho de contar. Dava para as necessidades imediatas. Então, ele me olhava e dizia a frase preferida dele, dedo em riste: Meu jovem Kenard Kruel, toque pra frente, mas, quando avistar um boteco, pare nele". Numa viagem de meia hora, nós passávamos uma semana ou mais para chegar ao lugar. Uma feita, saímos de Teresina para Caxias. Chegamos em tempo breve de 15 dias, quando a viagem normal não dura quarenta minutos. Em todos os bares ele parava para tomar uma cerveja. Nunca andava sem um cigarro numa mão e um copo de cerveja na outra. Muito amigo do presidente José Sarney, por uns tempos foi quem escreveu os discursos e, dizem, os melhores títulos do escritor membro da Academia Brasileira de Letras. Em retribuição, o presidente José Sarney o nomeou, de Decreto no Diário Oficial, e tudo mais, com carteira assinada, Assessor Poético da Presidência da República do Brasil. Ele morava em Caxias, de um lado, vizinho ao depósito da Brahma, e do outro, vizinho ao depósito da Antártica. Justificava: medo de um dia acordar e não ter cerveja para ele beber. Quando ele faleceu, o velório encheu-se de curiosos, principalmente os políticos da região, que permaneceram até o último minuto do enterro. Queriam ver, com os próprios olhos, se ele tinha morrido e se enterrado mesmo, o pena sem pena, que fazia deles, políticos, alvos das mais ácidas críticas. Nós jogamos várias garrafas de cerveja no túmulo dele. De quando em vez, o coveiro pega um malandro desterrando umas garrafas. Com fé, esperança e amor. (Arte do genial cartunista pernambucano, de Recife, Carlos Araújo).
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